O professor Carlos Santos certamente não levará a mal que lhe «roube» o título do blog, de que é o autor, para publicamente agradecer esta amabilidade, que me surpreendeu. Há quem escreva muito mais e bem melhor sobre assuntos tão ou mais interessantes. Assim sendo, porquê eu?
De acordo com as regras do prémio, cabe-me, agora, designar outros sete blogs. O «selo» já está lá em cima, segue o «texto oficial»:
"O blog «O Valor das Ideias» atribuiu ao «Ângulo Recto» o Prémio Lemniscata. “O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores." Sobre o significado de LEMNISCATA:LEMNISCATA: “curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores(In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora) Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente."
[Texto da editora de “Pérola da cultura”]
Por ordem cronológica (a minha), aqui vão as 7 nomeações:
«A Revolta das Palavras» [por todas as razões em geral, e em particular por ter sido aquele que me fez ter vontade de escrever]
«Incursões» [por muitas razões, e em particular pelos textos do MCR]
Às vezes são afirmações desrazoáveis, outras vezes aquelas para as quais não descortino fundamento, ou me parecem aleivosas, ou ainda absurdas, normalmente são essas que prendem a minha atenção e depois aqui «afixo». Hoje «apeteceu-me algo», tipo «bombom moralizador», algo que me faça ter vontade de continuar, porque nesta vida que eu levo, fazendo o que faço, há dias em que é particularmente difícil manter recto o ângulo. Vagueando na net, um pouco à deriva, fui ter à definição de «carácter» que abaixo transcrevo. Não li o livro, não sei se reproduz o que foi escrito de forma fidedigna, mas ainda assim, aqui fica:
«Obedecer aos próprios sentimentos? Arriscar a vida ao ceder a um sentimento generoso ou a um impulso de momento... Isso não caracteriza um homem: todos são capazes de fazê-lo; neste ponto, um criminoso, um bandido, um corso certamente superam um homem honesto. O grau de superioridade é vencer em si esse elã e realizar o acto heróico, não por um impulso, mas friamente, razoavelmente, sem a expansão de prazer que o acompanha. Outro tanto acontece com a piedade: ela há-de ser habitualmente filtrada pela razão; caso contrário, é tão perigosa como qualquer outra emoção. A docilidade cega perante uma emoção - tanto importa que seja generosa ou piedosa como odienta - é causa dos piores males. A grandeza de carácter não consiste em não experimentar emoções; pelo contrário, estas são de ter no mais alto grau; a questão é controlá-las e, ainda assim, havendo prazer em modelá-las, em função de algo mais.»[Friedrich Nietzsche, in 'A Vontade de Poder']
Há uns tempos atrás o prof. Gonzalo Ramírez Cleves, autor do blog Iureamicorum, convidou-me a participar no «Encuentro de Blawgs (BB/09) - Bogotá 2009» que irá realizar-se entre os próximos dias 12 e 14 de Agosto, na Universidade da Colômbia. Na altura explicou-me que a participação poderia consistir no envio de um texto, não implicava necessariamente uma presença física no encontro, e este facto, associado, como é evidente, à simpatia do convite, fez-me aceitar, de imediato, o desafio. Infelizmente, lá diz o ditado que «de boas intenções está o inferno cheio», pelo que, em consciência, sou agora forçada a reconhecer que não cumpri minimanente o que prometi. As minhas desculpas ao Gonzalo, com a devida explicação pública, que a circunstância do «Ângulo» estar há largos meses «indexado» ao Encontro, torna necessária: desde que, em Janeiro do ano passado, assumi funções como vogal do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, tenho pensado, em várias ocasiões, suspender a minha actividade como blawger. Se tal não aconteceu ainda, é apenas porque há sempre um assunto ou outro que acaba por motivar a minha intervenção, em prol da cidadania, e sem implicar sacrifício do meu dever de contenção e reserva, que a função de juiz, no seio da minha Ordem, agora me impõem. O resultado está à vista. Tenho escrito muito menos, o que, naturalmente, não prejudica ninguém, excepto eu própria, uma vez que, para mim, escrever é, acima de tudo, um exercício de liberdade e de cidadania. Escrever purga-me, manter um «blawg» é a minha maneira de «acertar as contas» com o que me agride, entristece, enfurece, enoja, porque hoje já não vive quem antes, nos dias difíceis, me dizia «já vi que hoje estás zangada com o mundo!» e com isso me ajudava a libertar essa carga. Liberdade e Cidadania são a «substância» deste meu «Ângulo». Liberdade e Cidadania são, igualmente, os valores que estão na base da meritória actividade desenvolvida pelo Gonzalo e demais Companheiros, ao longo deste último ano, promovendo e organizando o Encontro de Blawgs - Bogotá 2009. Do lado de cá do Atlântico, com muita amizade e respeito, aqui fica a minha saudação para todos os blawgers que participam nesse Encontro e muito em particular para o Gonzalo Ramírez Cleves. Saravá Gonzalo!
Por razões que agora não vêm ao caso sei que, presentemente, está internado no serviço de cuidados intensivos de um dos principais hospitais de Lisboa um rapaz de 28 anos que, no regresso a casa, vindo do trabalho, teve um acidente e ficou tetraplégico. É pai de duas crianças pequenas. Quando recuperar - se recuperar - irá ser transferido directamente daquele serviço para o hospital de Alcoitão. Se houver vaga, claro... Lembrei-me dele por ter lido aqui, que «vários grandes empresários e os presidentes das Câmaras do Porto e Barcelos» estão dispostos a financiar a viagem de regresso e a proporcionar emprego, alojamento e «boas condições» à cidadã russa que, há uns meses atrás, voltou ao país de origem levando consigo a filha, sensibilizados pelo facto da criança ter sido afastada do casal de portugueses que a teve à sua guarda durante os últimos quatro anos. Correndo o risco de emitir uma opinião herética, que muitos julgarão cruel, pergunto a mim própria o que há assim de tão horrível em ser levado pela mãe biológica para o país de origem, onde vive o resto da família, a ponto de justificar a preocupação dos grandes empresários e presidentes da câmara deste país, como se por cá não existissem situações verdadeiramente trágicas e desesperadas, a merecer atenção. Isto para já não falar noutro tipo de aberrações ...
Nas eleições para o Parlamento europeu apenas 43,01 por cento dos cidadãos foram às urnas, e tal correponderá, dizem, à «participação mais baixa de sempre». Há quem veja nesta aberração «vontade de castigar os protagonistas do teatro político». Antes fosse, mas tenho sérias dúvidas. Desconfio que é apenas mais uma manifestação do egoísmo e indiferença que corroem os espíritos dos indivíduos que constituem aquilo que se costuma designar por «sociedade civil». E seria de esperar outra coisa, quando nas instituições, no dia a dia, o que se privilegia, a todos os níveis e em todas as áreas, é a condição de consumidor e se desvaloriza as questões de cidadania? Há umas semanas atrás a notícia era que, no outro lado do mundo, havia gente a fazer quilómetros e a esperar, pacientemente, em fila, só para poder votar. A globalização tem destas coisas: um conceito inventado pelos gregos está, presentemente, a ser aplicado na Índia, com resultados significativamente melhores que na sua origem. E depois ainda há quem se admire do estado da nossa economia, como se esta e a política fossem realidades estanques...
«O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, escusou-se ontem a comentar a decisão da Justiça portuguesa de entregar a menina russa Alexandra à mãe biológica, mas sublinhou que errar "faz parte da natureza humana". Também o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, se referiu ontem ao caso, afirmando que a sentença da Relação de Guimarães mostra "a incapacidade do sistema judicial português" e configura "uma situação verdadeiramente cruel". Rio afirmou-se particularmente chocado com o facto de Gouveia Barros, o juiz responsável pela sentença, ter afirmado que voltaria a decidir da mesma forma perante uma situação semelhante.» [notícia do Público, ed. impressa]
Estou aqui a pensar o que diria o dr. Rui Rio se o juiz em causa se pronunciasse publicamente sobre a forma como ele governa a Câmara em função do que lê nos jornais ...